segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Um Natal com perspectivas diferentes

Nessa semana, foi muito duro. Decisões difíceis no trabalho e a partida de uma amiga, aos 42 anos, de AVC. Por que na semana do Natal?

Ainda não tinha percebido o grande amor das lições.   
Foi aí que recebi dois presentes especiais. Nesta mesma dolorosa semana, conheci duas instituições pelas quais pretendo dispor parte do meu tempo para ajudá-las. Arrecadações, flores, o que eu puder fazer. Compromisso de 2013, onde eu me sinto até envergonhada em propagar,porque sei que vou ganhar muito mais do que vou doar.

Em ambas, conheci a coincidência. Durante a semana, visitei uma instituição que cuida de crianças com severos problemas cerebrais. Fica em Carapicuíba (SP). Na conversa com a voluntária, ela me contou que há alguns pacientes autistas. Alguns deles moram lá, porque a família não tem como cuidar deles.
Ouvi com tristeza relatos de que é difícil até contatar familiares em casos de óbitos.

No sábado, visitei um orfanato com alguns amigos para doar materiais de higiene pessoal. Os amigos também serviram lanches e a moça que idealizou a visita conseguiu um cabeleireiro para cortar os cabelos dos internos. Uma instituição no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, que atende a três favelas, com cursos de capacitação, numa tentativa de tirar crianças e adolescentes das ruas. Ou, no extremo, acolhendo crianças e jovens abandonados completamente por suas famílias. Infelizmente, raros são os casos de famílias que ainda visitam seus filhos. 

Percebo que não escolhi os locais, eu os recebi de presente.  Essas duas instituições foram indicadas - uma por um colega de trabalho e a segunda por amigos que compartilham do mesmo propósito de ajudar o próximo.


Durante a visita, conheci um garotinho, de uns 9 anos. E ele tinha Síndrome de Down e autismo. Ele cismou comigo. Deu-me dois tapas. A cuidadora explicou que era normal essa agressividade dele, que ele conta com terapia etc. Eu agi como faço com o Giovani. Tratei-o normalmente, dando-lhe uma bronca pelos tapas. Sorri, porque constatei que ele não só me entendeu como ficou bem quietinho depois. Foi a nossa interação.

Conheci uma menina de também 9 anos, muito inteligente, que falava palavras difíceis, adorava brincar de advinhação e tinha um ótimo papo. E ouvi o lamento de uma adolescente de 14 anos, contando o que ouviu de uma das cuidadoras: nesse Natal, não sairia com os padrinhos porque o juiz perdera a documentação dela. Uma perdoável desculpa que a cuidadora deu a ela, para não lhe dizer, que na verdade, ninguém se voluntariou para levá-la para passear durante as festas de fim de ano.

Em um momento no qual ficamos felizes, sensíveis, abraçamos, beijamos e compramos presentes é difícil entender porque uns abandonam os outros. Mas, não julgo. Não ter condições de criar um filho é muito difícil. Imagine se ele tem necessidades especiais. 

Não falo só pelo garotinho. Falo pelas outras 21 crianças que conheci no sábado e dos 68 atendidos em Carapicuíba. Torço para que sejam bem-sucedidos, mesmo com as condições de desvantagem nas quais se encontram. E torço para que mais lares e instituições continuem a abrigá-las. 

As ajudas que dei são muito singelas perante o que aprendi. Uma semana de lições duras. Mas a verdade é assim. Dura e duradoura. 

Presente que traz futuro. Futuro de lutas, de trabalho, mas da certeza de como é importante olhar para o lado e não perder um minuto sequer para ser feliz e deixar quem estiver à sua volta feliz.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Com os votos de 2013

Como eu não acredito que tudo se acaba no dia 21, então eu me atrevo a torcer pelo futuro.

A coisa mais difícil para pais de autistas ou de crianças com necessidades especiais - sejam elas quais forem - é projetar o futuro. Também não é exclusividade nossa. É impossível prever o futuro dos filhos. Para qualquer pai, mãe, responsável legal - o nome que for.

Para quem se sente responsável pelo outro, o nome não é previsão. É desejo

No meu caso, eu desejo que o meu filho consiga tirar as fraldas. Torço para que ele possa conversar mais comigo. Luto para que tenha cada vez mais perto da gente pessoas que o entendam e que principalmente o respeitem. E que o Gio seja cada vez mais independente.


Desejo ainda que cada pai, mãe, responsável legal - não importa, desde que seja o responsável afetivo, de fato - tenha forças para desejar e lutar pelo bem de seus filhos. Que cada um tenha, em especial para quem agora está descobrindo que o filho tem necessidades especiais, a força necessária de superar e de encontrar nesse ser especial uma verdadeira lição de vida. E que encontre profissionais bacanas, que o auxiliem e o acolham de verdade. Agradeço e torço pelos profissionais que me ajudaram e que estão me ajudando nesse processo. E entendo que quem atrapalhou só fez a minha busca crescer.



E, o mais importante: que eu não esqueça de vibrar por cada conquista que trilharmos juntos.  E que possa compreender quem não compreende, porque sei mais do que ninguém que não é fácil. Xiita não é a minha praia e não desejo ser assim com ninguém. Pelo contrário, quanto mais ajudar, melhor.

E que venha 2013. Com seu pós "fim do mundo" e tudo.

 

  

Uma quinta-feira dessas

Hoje foi um dia normal. Normal?

Na verdade, foi um dia típico, com o atípico nas entrelinhas. 

A rotina não é fácil. Viagem, novas atribuições, mudanças na rotina de casa, anseios por novos hábitos em 2013.

Em meio a tudo isso, o meu garotinho. A culpa de ter ficado fora por uns dias, falta de tempo. Aparecem uns relâmpagos, o dia termina depois da hora prevista e aí vem a ideia - por que não jantar fora?

Marido e meu garotinho me encontram e escolhemos um lugar, razoavelmente cheio. Rápidos e precavidos, já descemos do carro com o aparelho celular que tem o joguinho preferido do Gio e um livro que ele anda curtindo sobre histórias da Disney. 

Entramos, fazemos o pedido e ele começa a jogar. E, como há muito tempo não fazíamos, conseguimos comer e conversar. Ora o Gio reclamava da quentura das batatas fritas. Ora ele jogava, ora tomava água e se divertia em abrir a garrafa e me fazer derramar mais o líquido. 

Passamos despercebidos. Incógnitos. Normais. Normais... uma noite que a gente sempre deseja, sabe o quanto é difícil. Mas, possível. Para a gente, pobres mortais, iludidos normais, um carinho da vida.
      

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um dia



Uma hora você começa a pensar. Não é sempre. Não, não se trata de uma ofensa. São os dias cheios de coisas para fazer, apoiados pela alta tecnologia - que ainda te permite fazer mais e mais.

Estranhamente é confuso ficar em silêncio, em paz. Deveria ser normal. Mas não somos, não é mesmo?

Há coisas que aprendi sobre o silêncio... ele é bem barulhento. Vai te remetendo a cenas e cenas. Você é capaz de viajar por décadas – pelo menos no meu caso, são quase quatro. Acho que é isso que a meditação tenta combater. Devolver o silêncio ao silêncio.

Mas, para os que ainda não conseguem alcançar um nível transcendental, de vez em quando ver o filme da sua vida não é tão mal assim.

Saudades do que não vivi. Saudades do que poderia ter vivido, das pessoas que já se foram. Um pouco de dor. No fim, mais alegrias do que imaginava. Felizmente.

Impressionante como faz bem a gente concluir que tomou algumas decisões certas no passado. E que as erradas também não foram tão ruins assim.
Conheci o fundo do poço algumas vezes. Escalei-o várias. E vou fazer isso outras vezes.

Plantei árvores, encontrei amigos, estudei, apaixonei-me, tive um filho. Não escrevi um livro, mas tenho um blog – honesto, vamos dizer assim. Não tenho o tempo que queria, mas vivo o melhor possível.

O que muda?  E a quem isso importa?

A mim mesma.
O passado é passado.
A família e os amigos, o eterno presente. Apenas torço para que não os incomode e que possa ajuda-los, sempre que possível.
E para os que não tiverem afinidade comigo e aos que ficaram no passado...lamento. Sinceramente.





quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma foto aqui, uma dor ali







Essa foto é um simples desenho. Mas de muitos significados. Autorizamos, desconfiados, a escola a fazer uma sessão de fotos. Pessimistas, pensamos - eu e o meu marido - que não surtiria muito efeito. Imagina, ficar quieto, trocar roupas e posar para fotos?

Quando soubemos que ele fez a mesma quantidade de fotos que as demais crianças e que não chorou, não fez birra... ficamos surpresos. Cheguei a comentar com o fotógrafo que ele era autista. E mais atônita fiquei quando ele me respondeu que sequer notou.

Briguei comigo mesma. E lembrei de uma história vencedora e de superação, de um pai (Ciro) que ajudou o filho (Luca) a realizar o sonho de jogar futebol, após uma complicada cirurgia e de dores que o menino sente até hoje. Os dois emocionaram quem assistiu ao programa Encontro, com Fátima Bernardes. Essa história me repreendeu - se eu não acreditar no meu filho, não posso exigir que outros apostem nele.

Nossa, ultimamente tenho crescido bastante. Minha crise no ciático vem me ensinando o tempo de respirar, de parar, de refletir e de, principalmente, poupar-me. É incrível como o corpo fala. E ele tem me dito muitas coisas.

Se prestarmos atenção a simples sinais... acho que, de certa forma, é proposital sermos limitados. Enlouqueceríamos se pudéssemos compreender tudo. Mas praticar percepção é muito salutar. Quanto mais sinais, mais aprendizado.   Vale muito.

Já me acostumei a algumas esquisitices da vida. De vez em quando, ela dá lições nas formas mais inusitadas. No momento, uma foto e uma dor no ciático estão sendo meus verdadeiros professores. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SUPERAÇÃO, SEMPRE


Não fosse o Giovani, não conheceria tantas histórias interessantes de superação. Ou melhor, acho que não prestaria tanta atenção a elas. Há várias histórias por aí, de anônimos, que são muito inspiradoras. Pelo menos comigo, emocionam e me fazem sentir parte de um grupo. Quem tem filho especial sabe disso. E quem não tem também sabe. A gente se une pela dor e acaba ficando anestesiado, diria até que alivia sabermos que não é só a gente que lida com desafios diferentes.

Parece egoísmo, mas não é. Para tornar público um desafio, precisa de coragem. Expor-se, pelo menos, não faz parte da minha natureza. Acho que ninguém, em sã consciência, pensa “quando crescer eu quero expor todos os meus sofrimentos publicamente”. Mas algo move. No meu caso, é um misto de terapia com solidariedade. Tem dado certo.

Mas o ponto vital de histórias assim está na superação. Das seis perguntas básicas do Jornalismo, a que eu mais gosto é o “como”.  Não que as outras não sejam fundamentais. Mas quando eu descubro como ocorreu algo, como alguém construiu algo, como alguém transcendeu, para mim, significa que encontrei o ouro da história, o segredo da receita que ninguém escreve.

Ainda não achei o “como” da minha história com o Giovani. Diria que já achei alguns em situações pontuais. “Como” falar dele sem chorar, “como” se preocupar menos com o futuro – para ambos os casos, a resposta é única: cada dia, um dia.

Mas eu tenho aprendido muito com o significado da superação e não é só com o Giovani. Com a vida. Sim, de vez em quando, a vida te vira de cabeça para baixo. Decepções existem e não são poucas. Inesperadamente as forças vão embora, o desânimo toma conta. Inexplicavelmente as coisas ficam sem sentido. É impressionante como há coisas que te tiram do prumo, roubam a sua essência.

E o mais impressionante é como essas mesmas coisas representam a força para virar o jogo. Não se trata aqui de uma receita de bolo, mas o que eu tenho vivido me ensinou algumas saídas sábias, que podem significar frases de botequim a um desavisado. Mas, para quem vive, na carne, são verdadeiros trunfos:

1)   Tempo.  Dar um tempo, aguardar o tempo certo. Esperar o tempo passar. Suaviza tudo.

2)   Espiral. Sim, a vida é um espiral. Você lida com situações similares e com personagens diferentes. Isso é para aprimorar sua capacidade de superação.

3)   Não, não ache que as pessoas têm a mesma velocidade que você e que precisam responder à vida como você responde.

4)   Silêncio. Ele não comete erros. E é o seu melhor apoio para aguardar o tempo certo.

5)   Depois do tempo, do silêncio e de avaliar o espiral e os personagens, aí vem a reação. Uma das melhores sensações. Sentir que está vivo novamente, reagindo.

6)   Perdoe. Pessoas, como você, naturalmente erram. Peça perdão, se necessário.

 

Parabéns, você cresceu. E o que é melhor, a história continua.

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 6 de outubro de 2012

Pequenos presentes

Cada vez fico mais convicta de quão paradoxal é o significado de "pequeno". As primeiras coisas que pensamos são "pouco", "menor", "insignificante".

Ultimamente, "pequeno" significa para mim "caminho para o grande". É o primeiro passo que traça o caminho, é o pequeno gesto que transforma uma situação, é a pequena lembrança que traz um sorriso largo.

Hoje foi um desses dias. Fomos à escola conversar com a professora do Giovani. Ela nos mostrou os desenhos. Mostrou um desenho de uma girafa, explicando como ele conseguiu acompanhar um dos contornos e como fez até manchas do bicho. 

Em seguida, fomos para a empreitada do corte de cabelo. E, para a nossa surpresa, foi calmo. Uma reclamação aqui, um chorinho ali, e as madeixas foram cortadas. Para quem já teve que conviver com olhares amedrontados e "julgadores" sob os gritos de uma criança, uma vitória daquelas. Enquanto ele cortava o cabelo, dávamos a ele distrações - joguinho, pirulito... tudo vale nessa hora. E eu ficava lembrando da vez que saí daquele mesmo lugar quase chorando, porque tinha sido traumático para o meu filho, para mim e o meu marido. Saíamos os três exaustos do salão.

Em um raciocínio lógico, é pouco. Para mim, é muito. Ter um filho com limitações é te jogar no escuro. Literalmente. Você não saber e prever, é quase desesperador. Mas é um exercício e tanto, porque te faz crer no invisível.

Em um país onde pouco se fala do autismo, quase nada se legisla sobre o transtorno e as informações são de fontes raras e ao mesmo tempo confusas, não há como temer o futuro. 

Inclusão é uma palavra em alta. É politicamente correto ser a favor da inclusão. Mas até que ponto somos, de fato, inclusivos? Sem qualquer pretensão pela hipocrisia, se não fosse o Giovani, meu olhar seria de desconfiança. 

Não julgo pais de outras crianças que possam temer que seus filhos convivam com outras com deficiência. Também não julgo profissionais de Educação. E olha que teria todo o ingrediente para tal. Nunca vou me esquecer de um telefonema a uma escola - dessas que ostentam usar padrões inclusivos .
A frase "nossa escola não tem como atender o seu filho" é inesquecivelmente dolorosa. Por outro lado, há inúmeras escolas que dizem "sim" pro seu filho e simplesmente o deixam de canto. Pelo menos essa foi honesta.

Tenho muita sorte pela escola na qual ele está. Conhecer hoje a professora me fez ficar duplamente tranquila. Ela gosta do meu filho e a prova está no sentimento do Giovani por ela. Sentimento pueril não mente. E ela acaba fazendo ações personalizadas - olha nos olhos dele, deixa ele pintar com canetinhas por entender que ele tem mais facilidade, tem paciência e firmeza com as birras. Pequenas atitudes - grandes avanços.

Torço para que mais pessoas se conscientizem do que significa incluir. Não vou negar. Não é fácil. Mas, é apaixonante. Garanto. Você sentir que está fazendo a diferença por alguém que não se encaixa nos padrões sociais é inexplicavelmente gratificante. 


Isso dá mais ânimo. Mas há muito ainda a fazer. Então, continuo. Passo a passo... passinhos... pequeninos... cheios de luz. Pequenos presentes.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Vamos lá, continue


São pequenos gestos que trazem grandes emoções. Uma delas aconteceu no último sábado, em um espaço para crianças.

Meu filho entrou em um desses brinquedos, cheios de tubos, com redes e plásticos, que desembocam em um escorrega.

Já havia notado que ele nunca conseguia concluir o caminho. E aí surgiam as dúvidas. É por que é autista?

Foram vários espaços infantis e vários brinquedos como esse. Ele, primeiro, conseguiu subir até o segundo degrau. No sábado, foi até o terceiro. Já comemorava. Foi então que ele entrou no primeiro túnel, cercado de redes. Empacou no meio. Crianças – menores e maiores do que ele – passavam pelo meu pequeno.

Começaram a surgir os pensamentos novamente. É por que é autista. E agora, como tirá-lo dessa situação aflitiva? É aflitiva para ele ou para mim?

Foi quando aconteceu um dos inúmeros milagres que a gente vivencia todos os dias e, às vezes, nem os nota.

O meu milagre chama-se Janaína. Monitora do espaço infantil, começou a alertar as crianças para que não machucassem o meu filho quando passassem por ele. Chamei-a e expliquei-lhe a situação. Ela, que poderia muito bem ter deixado tudo como estava, tomou a seguinte decisão: avisou que nenhuma criança poderia subir e ela mesma entrou no brinquedo. Foi indo atrás do Giovani, com as frases “vamos lá”, “continue”. Foi quando eu vi uma cena marcante. Meu filho havia concluído o brinquedo.

Lágrimas nos olhos. A Janaína não deve ter entendido as duas vezes que fui até ela para lhe dizer “muito obrigada, muito obrigada mesmo”.

A partir dali, ele foi, sozinho, concluindo todo o percurso por mais umas quatro vezes.

Vitória da vida. Vitória da Janaína. Vamos lá, continue.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Com medo de avião

Não, não é a música do Belchior. É a experiência de pegar avião com o Giovani. Pensando nas duas últimas vezes e de como ele se divertiu, achei, inicialmente, que seria tranquilo.

Mas, comecei a me preocupar. Da outra vez que ele viajou, tinha menos de dois anos de idade. Não parou durante o vôo, atravessando o corredor por várias vezes. Divertiu os passageiros, fiquei exausta, mas foram 40 minutos de ponte-aérea.

Pensei em distraí-lo com músicas, mas aí veio a preocupação em manusear o computador e dar conta do Giovani. Desisti.

Chegou o dia. Até a hora do check-in, tranquilo. 

Mas, na hora da fila para passar pelo detector de metais, já começou a saga...não, ordem e sentindo comum não são os fortes do autista. Choro ao se separar do carrinho amarelo, que tinha que passar pelo detector de metais antes de chegar nas mãos do Giovani.

A birra continuou. Não queria ir na direção do portão. E, como nessas histórias é quase que um determinante - sim, o portão era o de número 12, o último. Ele se debatia, eu  o pegava no colo e chorava. Ria também, porque sabia que estava me testando. As pessoas olhavam. Sim, elas sempre vão te olhar. Continuei caminhando e caminhando. Por vezes o segurei com mais força. Era a forma de canalizar - não sei se a raiva ou o desespero. Mas, senti que o machuquei e ele chorou. Aí vem o peso na consciência. Ele não entende. Quem tem que entender sou eu. Pedi desculpas mentalmente a ele, por ainda não ter a capacidade de entendê-lo como deveria.

Nossa, uma pessoa é capaz de pensar tudo isso passando por 12 portões? Acredite. Para quem tem filho autista, a gente pensa em dobro. Antevê, antecipa, sempre pensando em como minimizar uma birra, em como deixar uma criança confortável em um ambiente que não é confortável para ela.

Não quis entrar na fila preferencial. Sei muito bem que quanto mais chegarmos em cima da hora, menos o Giovani vai sofrer. Sentamos, ele ficou brincando com os carrinhos, amigos inseparáveis. Ficou olhando pela janela, sentindo que estava dentro do avião. Que para aquele objeto que ele costuma apontar quando está no ar. Deve ter sido difícil ele concluir que estava dentro desse objeto, de asas, enorme.

O avião começou a andar pela pista. Giovani, tranquilo. Pensei: "mamão com açúcar". Mas, foi o "bicho" começar a alçar vôo e, apavorado, ele se agarrou a mim, pulando no meu colo, desamarrando-se do cinto de segurança com uma agilidade que só o medo provoca. Não consegui olhar pros lados.

Eu rezei. Rezei muito. Comecei a me culpar. Eu também tenho medo de altura, "será que passei isso para ele?".

O pobrezinho adormeceu no meu colo. E assim fomos até a aeromoça pedir que eu o acomodasse novamente na cadeira. Fiz isso, mas ele se agarrou a mim novamente. Comemorei, aliviada, que a aeromoça não voltou. E assim conseguimos pousar - ele, seguro, no meu colo.

Exausta. Cheguei exausta. Consideraria uma vitória? Sim, chegamos. Mas, será que todas as viagens serão assim? Será que um dia eu vou poder levar meu filho a outros lugares? No fim do dia, contei a experiência ao meu marido, que me disse. "Autistas não têm medo". Não sei se isso é comentário de pai esperançoso, mas cheguei a comemorar o medo do Giovani.

domingo, 2 de setembro de 2012

Dia de circo

Ontem foi dia de circo. Normal para qualquer pai e mãe. Não para mim e o meu marido. A apreensão - "será que ele vai gostar, prestar atenção, ficar quieto?". 

Pagamos, entramos, Giovani ficou concentrado na pipoca, para nosso alento. Não precisamos ficar correndo atrás dele. Uma vitória.

O show começa, mas o nosso garotinho curtiu mesmo foi a iluminação do circo. Em alguns lampejos ele olhava para os palhaços, ou o macaco, ou o papagaio. Mas o barato dele eram mesmo as luzes.

Intervalo. Mas o Giovani já dava sinais de que para ele o show tinha terminado. Começou o corre-corre sem fim... meu marido até queria ficar... eu também... para reviver os anos de infância saudosos do circo. Mas, nosso garotinho ainda não entende esses revezes... hora de ir. 

Afinal, já eram duas vitórias na noite. Ele ficou quieto, ele ficou por uma hora em um lugar. Coisas que passam desapercebidas para uns, mas, que para nós, não têm preço.

sábado, 1 de setembro de 2012

Dia da família...

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pequenas vitórias

Saber que você perdeu 700 g. É uma vitória.

Ler a mensagem da escola do seu filho dizendo que ele fez um dever no caderno, é uma mega vitória.

Ser mãe ou pai de um autista requer coragem. É um dia a dia como um tiro no escuro. Você planta, planta, ora acha que está fazendo tudo errado, ora que está ausente. Nunca sabe o resultado.

Mas a surpresa positiva não tem preço. Afinal, são muitos "contras": diagnóstico subjetivo, profissionais de saúde que com um simples olhar e poucos minutos de observação já apontam seu filho como "clássico".

Aliás, aqui vai um recado aos neuropediatras: humanização nunca é demais. Tive uma experiência horrorosa com um renomado neuropediatra em São Paulo, que me deixou de pé durante a consulta, mal olhou para mim, fez um requerimento de exames, e, de forma monossilábica, disse: "é, é autista. Mas só posso dar mais detalhes depois dos exames".

O meu garotinho entendeu na hora e jogou uma peça de um brinquedo na direção do médico, que ficou assustado. E eu também entendi o recado: "não subestime alguém sem conhecê-lo primeiro".

Mas eu tenho amigos. Amigos que não olham de forma estranha para o meu filho. Amigos terapeutas, que me fazem acreditar. Amigos professores.

Sim, amigos. Amigos te falam a verdade, mas acreditam. E tentam. E te ajudam a continuar tentando. A eles, meu muito obrigado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Um sonho

Faz tempo que eu não escrevo... e não é por não gostar. Amo a escrita. Não é por acaso que sou jornalista. Adoro a informação e sua força de mudança. Mas ontem eu recebi uma inspiração, que veio de um blog: http://lagartavirapupa.com.br/blog/. Nele, a autora Andrea Werner escreve sobre o seu filho Theo, autista.

Eu fiquei impressionada pelas coincidências: também me chamo Andréa, meu filho também nasceu em 2008 e também foi diagnosticado com autismo.  Eu me vi em vários de seus depoimentos e vivências relatadas no blog.

Porém, o que mais eu tenho a agradecê-la é que ela  reacendeu um sonho que criei assim que o Giovani foi diagnosticado – ajudar outros pais, que, como eu e o meu marido e a Andréa Werner, peregrinaram ou estão peregrinando por consultórios, terapeutas, em meio ao sofrimento em descobrir que seu filho, que estava até agora se desenvolvendo como as outras crianças, talvez tenha um futuro diferente das demais.

Pretendo escrever mais sobre o assunto. Mas duas coisas me fortaleceram nessa caminhada: uma foi o conselho de uma amiga, Elaine Bernardino, que me disse que temos que vibrar pelo que o filho faz e não pelo que ele não consegue fazer. E a outra veio da neuropisicóloga, na inglória tarefa em dizer para mim e o meu marido sobre o diagnóstico: as mães não sabem se os filhos vão pelo caminho do bem ou do mal.  Já os pais dos autistas sabem: eles não vieram ao mundo para fazer mal a ninguém.