terça-feira, 11 de setembro de 2012

Com medo de avião

Não, não é a música do Belchior. É a experiência de pegar avião com o Giovani. Pensando nas duas últimas vezes e de como ele se divertiu, achei, inicialmente, que seria tranquilo.

Mas, comecei a me preocupar. Da outra vez que ele viajou, tinha menos de dois anos de idade. Não parou durante o vôo, atravessando o corredor por várias vezes. Divertiu os passageiros, fiquei exausta, mas foram 40 minutos de ponte-aérea.

Pensei em distraí-lo com músicas, mas aí veio a preocupação em manusear o computador e dar conta do Giovani. Desisti.

Chegou o dia. Até a hora do check-in, tranquilo. 

Mas, na hora da fila para passar pelo detector de metais, já começou a saga...não, ordem e sentindo comum não são os fortes do autista. Choro ao se separar do carrinho amarelo, que tinha que passar pelo detector de metais antes de chegar nas mãos do Giovani.

A birra continuou. Não queria ir na direção do portão. E, como nessas histórias é quase que um determinante - sim, o portão era o de número 12, o último. Ele se debatia, eu  o pegava no colo e chorava. Ria também, porque sabia que estava me testando. As pessoas olhavam. Sim, elas sempre vão te olhar. Continuei caminhando e caminhando. Por vezes o segurei com mais força. Era a forma de canalizar - não sei se a raiva ou o desespero. Mas, senti que o machuquei e ele chorou. Aí vem o peso na consciência. Ele não entende. Quem tem que entender sou eu. Pedi desculpas mentalmente a ele, por ainda não ter a capacidade de entendê-lo como deveria.

Nossa, uma pessoa é capaz de pensar tudo isso passando por 12 portões? Acredite. Para quem tem filho autista, a gente pensa em dobro. Antevê, antecipa, sempre pensando em como minimizar uma birra, em como deixar uma criança confortável em um ambiente que não é confortável para ela.

Não quis entrar na fila preferencial. Sei muito bem que quanto mais chegarmos em cima da hora, menos o Giovani vai sofrer. Sentamos, ele ficou brincando com os carrinhos, amigos inseparáveis. Ficou olhando pela janela, sentindo que estava dentro do avião. Que para aquele objeto que ele costuma apontar quando está no ar. Deve ter sido difícil ele concluir que estava dentro desse objeto, de asas, enorme.

O avião começou a andar pela pista. Giovani, tranquilo. Pensei: "mamão com açúcar". Mas, foi o "bicho" começar a alçar vôo e, apavorado, ele se agarrou a mim, pulando no meu colo, desamarrando-se do cinto de segurança com uma agilidade que só o medo provoca. Não consegui olhar pros lados.

Eu rezei. Rezei muito. Comecei a me culpar. Eu também tenho medo de altura, "será que passei isso para ele?".

O pobrezinho adormeceu no meu colo. E assim fomos até a aeromoça pedir que eu o acomodasse novamente na cadeira. Fiz isso, mas ele se agarrou a mim novamente. Comemorei, aliviada, que a aeromoça não voltou. E assim conseguimos pousar - ele, seguro, no meu colo.

Exausta. Cheguei exausta. Consideraria uma vitória? Sim, chegamos. Mas, será que todas as viagens serão assim? Será que um dia eu vou poder levar meu filho a outros lugares? No fim do dia, contei a experiência ao meu marido, que me disse. "Autistas não têm medo". Não sei se isso é comentário de pai esperançoso, mas cheguei a comemorar o medo do Giovani.

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