terça-feira, 22 de outubro de 2013

Do limão, uma limonada? Semana difícil. Poucas horas de sono. Muito trabalho, as usual. Algumas decepções inesperadas – é incrível, mas aos 40 você ainda se surpreende com a vida. E, na verdade, é assim que tem que ser. Se pararmos de nos espantar, é porque tudo está acabado. Mas a gente insiste em esperar o que às vezes não vamos receber. Pessoas descumprem o que prometem. E ficamos revoltados, atônitos e com sede de vingança. Sim, sentimos isso. Sem hipocrisia. Ainda mais quando conscientemente investiu-se no melhor possível, com oportunidades a todos, um respeito às diferenças, às limitações. Vontade de fazer justiça, a tolerância fica zero, mas surge o bom senso – um desmancha-prazeres. Afinal, você também erra. E, se foi atingido, é porque tinha afinidade com o seu algoz. O que me faz recordar de duas frases, uma genial e outra assertiva. Ambas inteligentes. A primeira veio de uma chefe, que vez por outra me dizia: “detesto gente boazinha”. A segunda é matadora e caiu no meu colo. "Detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos", Jean-Paul Sartre. Seria ousado explicar Sartre. Mas ele foi tão direto, que fica fácil. Na vida, temos várias escolhas. Uma delas é optar entre ser algoz e ser vítima. Muitas vezes fui vítima. Em algumas, fui algoz. Não necessariamente porque quis ser. A vida te faz às vezes cumprir papeis, simplesmente. Rebelde, escolho não ser nenhum deles. Não é bacana passar por cima das pessoas. E não é justo deixar que passem por cima de você. E quando você acha que a semana já pode acabar, ela realmente recomeça, no domingo, com tudo a que tem direito: horário de verão e filho insone. Sua criança acorda às 3h da manhã. Chora, está irritado. Você não sabe se é uma crise do autismo ou se é uma noite ruim. Dá mamadeira. A criança fica mais desperta ainda. O jeito é ligar a televisão e esperar a hora de sair pro seu compromisso. Acabou? Ainda não. Você chega ao metrô e descobre que justo aos domingos há uma obra. Então você precisa pegar metrô-ônibus-metrô. E chega minutos depois do combinado pro seu compromisso. Os sinais de choro até surgem, mas é preciso continuar – explicando melhor, subir as escadas do metrô (porque as rolantes também não funcionam totalmente), entrar na fila, subir e descer do ônibus... A primeira parte da manhã acaba. E você resolve dar um novo rumo a esse cenário. Liga pro marido e combina um café da manhã na padoca mais legal do bairro. E ele vem junto com o pequeno, que nem parece a criança contrariada de horas antes. Feliz, falante (e isso, para pais de autistas, é um néctar dos deuses), comendo. A vida volta a fazer sentido. O aprendizado vai pra alma. E o corpo segue em frente.

7 comentários:

  1. Ai, amiga! VC é uma guerreira...tive até vontade de chorar, horário de verão aqui TB causou danos... lindo texto. BJ , Lud

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  2. Amiga você sempre foi guerreira e como não podia deixar de ser sábia. Ouvir um relato desses é sempre maravilhoso. A vida não está fácil pra ninguém, nosso dia é uma selva, contudo quando voltamos pra casa e recebemos um sorriso ou um abraço amaroso, apaga quase tudo de ruim que aconteceu.

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  3. De guerreira pra guerreira, né, Tatá... pq vc é super guerreira! Um beijão super pra você!

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  4. Que texto...que exemplo. Parabéns Deia. Beijos.

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