sábado, 6 de outubro de 2012

Pequenos presentes

Cada vez fico mais convicta de quão paradoxal é o significado de "pequeno". As primeiras coisas que pensamos são "pouco", "menor", "insignificante".

Ultimamente, "pequeno" significa para mim "caminho para o grande". É o primeiro passo que traça o caminho, é o pequeno gesto que transforma uma situação, é a pequena lembrança que traz um sorriso largo.

Hoje foi um desses dias. Fomos à escola conversar com a professora do Giovani. Ela nos mostrou os desenhos. Mostrou um desenho de uma girafa, explicando como ele conseguiu acompanhar um dos contornos e como fez até manchas do bicho. 

Em seguida, fomos para a empreitada do corte de cabelo. E, para a nossa surpresa, foi calmo. Uma reclamação aqui, um chorinho ali, e as madeixas foram cortadas. Para quem já teve que conviver com olhares amedrontados e "julgadores" sob os gritos de uma criança, uma vitória daquelas. Enquanto ele cortava o cabelo, dávamos a ele distrações - joguinho, pirulito... tudo vale nessa hora. E eu ficava lembrando da vez que saí daquele mesmo lugar quase chorando, porque tinha sido traumático para o meu filho, para mim e o meu marido. Saíamos os três exaustos do salão.

Em um raciocínio lógico, é pouco. Para mim, é muito. Ter um filho com limitações é te jogar no escuro. Literalmente. Você não saber e prever, é quase desesperador. Mas é um exercício e tanto, porque te faz crer no invisível.

Em um país onde pouco se fala do autismo, quase nada se legisla sobre o transtorno e as informações são de fontes raras e ao mesmo tempo confusas, não há como temer o futuro. 

Inclusão é uma palavra em alta. É politicamente correto ser a favor da inclusão. Mas até que ponto somos, de fato, inclusivos? Sem qualquer pretensão pela hipocrisia, se não fosse o Giovani, meu olhar seria de desconfiança. 

Não julgo pais de outras crianças que possam temer que seus filhos convivam com outras com deficiência. Também não julgo profissionais de Educação. E olha que teria todo o ingrediente para tal. Nunca vou me esquecer de um telefonema a uma escola - dessas que ostentam usar padrões inclusivos .
A frase "nossa escola não tem como atender o seu filho" é inesquecivelmente dolorosa. Por outro lado, há inúmeras escolas que dizem "sim" pro seu filho e simplesmente o deixam de canto. Pelo menos essa foi honesta.

Tenho muita sorte pela escola na qual ele está. Conhecer hoje a professora me fez ficar duplamente tranquila. Ela gosta do meu filho e a prova está no sentimento do Giovani por ela. Sentimento pueril não mente. E ela acaba fazendo ações personalizadas - olha nos olhos dele, deixa ele pintar com canetinhas por entender que ele tem mais facilidade, tem paciência e firmeza com as birras. Pequenas atitudes - grandes avanços.

Torço para que mais pessoas se conscientizem do que significa incluir. Não vou negar. Não é fácil. Mas, é apaixonante. Garanto. Você sentir que está fazendo a diferença por alguém que não se encaixa nos padrões sociais é inexplicavelmente gratificante. 


Isso dá mais ânimo. Mas há muito ainda a fazer. Então, continuo. Passo a passo... passinhos... pequeninos... cheios de luz. Pequenos presentes.

2 comentários:

  1. Limitações assustam... e muito!

    Cada dia, uma nova conquista... uma nova vitória... e cada nova vitória... ah! não existe alegria maior.

    Insistir. Esse é o verbo.
    Insistir, persistir...

    Cada dia é um novo dia!

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  2. Que legal, Má... é isso mesmo, insistir, perseverar...:)))

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