quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A morte da barata

Outro dia, meu filho presenciou a morte de uma barata. Ficamos tão felizes porque ele repetiu “matou barata”, que a comoção com o inseto ficou em segundo plano.

E o fato rendeu: na escola, durante um projeto sobre lagartas e borboletas, ele achou que o contexto era o mesmo: matou uma quase borboleta e achou graça.

Recebi, do colégio, um relato atônito da educadora – “aconteceu algo chato hoje”.

Eu ri. Simplesmente, ri.

Minha alegria de mãe de uma criança  autista vai, por vezes, pelo caminho contrário. Claro, fiquei com dó da pobre lagarta que quase virou borboleta. E expliquei tranquilamente à educadora que ele vivenciou uma experiência de presenciar a avó materna  matar uma barata na sua frente.

Para autistas, contextos são diferentes. O significado é que ele entendeu um contexto e tem dificuldade de entender que é diferente de outra situação. Desafios. Mas que não estragam a alegria de ele entender pelo menos um contexto.

É assim que compreendo o caminho (e que caminho!). Sei que muitos pais, nessa fase, comemoram que seus filhos estão lendo. Eu comemoro que o meu quase não usa mais fraldas aos cinco anos de idade, que sabe as letras do alfabeto, que sabe contar até 20. E comprovo com certa dose de provocação: é uma alegria até maior, porque vem de uma força de superação.

Cheguei a ficar grata em ter lido “A paixão segundo G.H.”, uma relação surreal entre uma mulher e uma barata descrita por nada menos do que Clarice Lispector. E a  recordar de amigas queridas que simplesmente morrem de medo de uma barata. Ri novamente. Só o meu garotinho consegue isso: fazer com que eu ria de coisas estranhas e inexplicáveis.

É assim que vou me lembrar dessa experiência:  que uma simples barata tem milhares de significados, que fatos da vida têm vários lados e que o segredo disso tudo é a sua decisão sobre qual ótica você vai analisar a situação.

E era só uma barata...