sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SUPERAÇÃO, SEMPRE


Não fosse o Giovani, não conheceria tantas histórias interessantes de superação. Ou melhor, acho que não prestaria tanta atenção a elas. Há várias histórias por aí, de anônimos, que são muito inspiradoras. Pelo menos comigo, emocionam e me fazem sentir parte de um grupo. Quem tem filho especial sabe disso. E quem não tem também sabe. A gente se une pela dor e acaba ficando anestesiado, diria até que alivia sabermos que não é só a gente que lida com desafios diferentes.

Parece egoísmo, mas não é. Para tornar público um desafio, precisa de coragem. Expor-se, pelo menos, não faz parte da minha natureza. Acho que ninguém, em sã consciência, pensa “quando crescer eu quero expor todos os meus sofrimentos publicamente”. Mas algo move. No meu caso, é um misto de terapia com solidariedade. Tem dado certo.

Mas o ponto vital de histórias assim está na superação. Das seis perguntas básicas do Jornalismo, a que eu mais gosto é o “como”.  Não que as outras não sejam fundamentais. Mas quando eu descubro como ocorreu algo, como alguém construiu algo, como alguém transcendeu, para mim, significa que encontrei o ouro da história, o segredo da receita que ninguém escreve.

Ainda não achei o “como” da minha história com o Giovani. Diria que já achei alguns em situações pontuais. “Como” falar dele sem chorar, “como” se preocupar menos com o futuro – para ambos os casos, a resposta é única: cada dia, um dia.

Mas eu tenho aprendido muito com o significado da superação e não é só com o Giovani. Com a vida. Sim, de vez em quando, a vida te vira de cabeça para baixo. Decepções existem e não são poucas. Inesperadamente as forças vão embora, o desânimo toma conta. Inexplicavelmente as coisas ficam sem sentido. É impressionante como há coisas que te tiram do prumo, roubam a sua essência.

E o mais impressionante é como essas mesmas coisas representam a força para virar o jogo. Não se trata aqui de uma receita de bolo, mas o que eu tenho vivido me ensinou algumas saídas sábias, que podem significar frases de botequim a um desavisado. Mas, para quem vive, na carne, são verdadeiros trunfos:

1)   Tempo.  Dar um tempo, aguardar o tempo certo. Esperar o tempo passar. Suaviza tudo.

2)   Espiral. Sim, a vida é um espiral. Você lida com situações similares e com personagens diferentes. Isso é para aprimorar sua capacidade de superação.

3)   Não, não ache que as pessoas têm a mesma velocidade que você e que precisam responder à vida como você responde.

4)   Silêncio. Ele não comete erros. E é o seu melhor apoio para aguardar o tempo certo.

5)   Depois do tempo, do silêncio e de avaliar o espiral e os personagens, aí vem a reação. Uma das melhores sensações. Sentir que está vivo novamente, reagindo.

6)   Perdoe. Pessoas, como você, naturalmente erram. Peça perdão, se necessário.

 

Parabéns, você cresceu. E o que é melhor, a história continua.

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 6 de outubro de 2012

Pequenos presentes

Cada vez fico mais convicta de quão paradoxal é o significado de "pequeno". As primeiras coisas que pensamos são "pouco", "menor", "insignificante".

Ultimamente, "pequeno" significa para mim "caminho para o grande". É o primeiro passo que traça o caminho, é o pequeno gesto que transforma uma situação, é a pequena lembrança que traz um sorriso largo.

Hoje foi um desses dias. Fomos à escola conversar com a professora do Giovani. Ela nos mostrou os desenhos. Mostrou um desenho de uma girafa, explicando como ele conseguiu acompanhar um dos contornos e como fez até manchas do bicho. 

Em seguida, fomos para a empreitada do corte de cabelo. E, para a nossa surpresa, foi calmo. Uma reclamação aqui, um chorinho ali, e as madeixas foram cortadas. Para quem já teve que conviver com olhares amedrontados e "julgadores" sob os gritos de uma criança, uma vitória daquelas. Enquanto ele cortava o cabelo, dávamos a ele distrações - joguinho, pirulito... tudo vale nessa hora. E eu ficava lembrando da vez que saí daquele mesmo lugar quase chorando, porque tinha sido traumático para o meu filho, para mim e o meu marido. Saíamos os três exaustos do salão.

Em um raciocínio lógico, é pouco. Para mim, é muito. Ter um filho com limitações é te jogar no escuro. Literalmente. Você não saber e prever, é quase desesperador. Mas é um exercício e tanto, porque te faz crer no invisível.

Em um país onde pouco se fala do autismo, quase nada se legisla sobre o transtorno e as informações são de fontes raras e ao mesmo tempo confusas, não há como temer o futuro. 

Inclusão é uma palavra em alta. É politicamente correto ser a favor da inclusão. Mas até que ponto somos, de fato, inclusivos? Sem qualquer pretensão pela hipocrisia, se não fosse o Giovani, meu olhar seria de desconfiança. 

Não julgo pais de outras crianças que possam temer que seus filhos convivam com outras com deficiência. Também não julgo profissionais de Educação. E olha que teria todo o ingrediente para tal. Nunca vou me esquecer de um telefonema a uma escola - dessas que ostentam usar padrões inclusivos .
A frase "nossa escola não tem como atender o seu filho" é inesquecivelmente dolorosa. Por outro lado, há inúmeras escolas que dizem "sim" pro seu filho e simplesmente o deixam de canto. Pelo menos essa foi honesta.

Tenho muita sorte pela escola na qual ele está. Conhecer hoje a professora me fez ficar duplamente tranquila. Ela gosta do meu filho e a prova está no sentimento do Giovani por ela. Sentimento pueril não mente. E ela acaba fazendo ações personalizadas - olha nos olhos dele, deixa ele pintar com canetinhas por entender que ele tem mais facilidade, tem paciência e firmeza com as birras. Pequenas atitudes - grandes avanços.

Torço para que mais pessoas se conscientizem do que significa incluir. Não vou negar. Não é fácil. Mas, é apaixonante. Garanto. Você sentir que está fazendo a diferença por alguém que não se encaixa nos padrões sociais é inexplicavelmente gratificante. 


Isso dá mais ânimo. Mas há muito ainda a fazer. Então, continuo. Passo a passo... passinhos... pequeninos... cheios de luz. Pequenos presentes.